terça-feira, 27 de abril de 2010

Gramelô de minha alma.

Acordei cantando. Parece bom. Mas almas perdidas que não enxergam um futuro, apagam seu passado e apenas existem no presente cantam músicas que soam para si como os tangos soavam aos ouvidos confinados em Auschwitz.
Cantei. A tarde toda cantei.
Música sem letra, uma mistura de linguagens que só uma mente distorcida como esta pode inventar.
O mais incrível é que enquanto proferia tais palavras compreendi e senti cada frase em 'gramelô'.
Gramelô de minha alma.
Canto por dó de mim.
Para esquecer a vergonha de não querer nada. Por querer o que não fui.
Queria sentir vontade de dançar, mas perderia o sentido do cantar.
Gosto desse vazio, pelo menos, me faz cantar.
Opiniões e afirmações proferidas por um indivíduo devem ser calcadas e embasadas em diversas fontes, embebidas no inconsciente, para curtir no bálsamo do conhecimento individual garimpado ao longo da existência empírica, para só assim serem defendidos.

O tempo...Sempre o tempo.

O tempo concerta tudo. O certo é que o tempo concerta, converte ou justifica tudo. Conceitos aclamados surgem de um punhado de pensamentos soltos que o tempo organiza.
Casamentos antigos com o tempo se tornam amores. Amores, amizades.
Loucuras de uma juventude tornam-se expressão, luta pela liberdade.
Rabiscos incompreendidos, obra de arte.
Gritos de liberdade tornam-se, na memória, fotografias da repressão.
Costumes enraizam-se tornando-se tradição de uma nação.
A semente vira oxigênio ou converte-se em matéria prima para papel.
Juras de amor e segurança de uma vida a dois se converte apenas em um anel.
Terra em alimento e propriedade. E irmãos em senhores ou vassalos.
E o homem, que sempre justifica e garante que concerta tudo, só não se converte a natureza de ser Humano.
É...O tempo converte tudo.

Joseph Campbell- O poder do Mito

"Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim.
Penso que o que procuramos é uma experiência de estar vivo, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenha ressonância no interior do nosso ser e de nossa realidade mais íntima de modo que sintamos o enlevo de estar vivo"

domingo, 25 de abril de 2010

Tragédia do novo mundo

A poluição das águas é o reflexo do quanto o homem está corrompido.É um ato de traição.
Nos fazemos Orestes. Pobre água Clitemnestra. A diferença que agora somos incitados não mais por uma irmã vingativa mas por uma filha faminta, a arrogância.
Sempre salvos pela intervenção de nossa deusa Minerva, tão benevolente aos Homens. Não esperamos menos do que esta defesa da Deusa da justiça! Ao homem o que lhe é de direito! E o direito das Deusas mães, da mãe primeira, da mãe natureza? Num mundo moderno, 'evoluído', não há espaço para suas interventoras, as Fúrias, pelo simples fato que estas são frutos da consciência humana, e isto há tempos se perdeu quando esquecemos quem é mãe e quem é filho.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Não há negação que se compare a sensação de se estar nú na frente de alguém pela primeira vez...
Pena eu ter me doado antes de ter ficado nú.

Barrigas Cheias

Reclamo e reclamo.
Sou o exemplo de um alguém que reclama de barriga cheia.
Exclamo e reclamo aos deuses. Sim, no plural, afinal, a humanidade
não está dividida em deuses e crenças? Se vilipendiando devido a diferença de cultura?
No fundo todos rogam a um único criador.
Reclamo em nome de todos, e antes, do meu próprio . E reclamo de barriga cheia!
Cheio de dor. Cheio da miséria, covardia e hipocrisia de muitos.
Cheio do egoísmo das almas.
Cheio de querer esperança, e mal conseguir respirar de tão cheio.
Estamos no apogeu da era dos homens de barriga cheia!
Hoje o dia está difícil.
Me dói o ar.
Já olhei o céu, admirei a chuva,
te contei histórias.
Tomei águas e fingi que é um dia normal.
Agora uso meu tempo vago,
agora que não preciso mais interpretar,
para chorar a vida.

Reflexo num copo d'água

Me vejo triste por ter fome
e não poder comer.
Me achar confuso
e não querer me explicar.
De querer amar
e não saber ter.
Por amar este lugar
e sempre estar pronto para partir.
E no reflexo d'água ver os mesmos olhos
e não me reconhecer.
Por achar que me pertenço
e mal conseguir manter-me em mim.